Depois da forca...

Dia 21 de janeiro de 2006, sábado, foi encontrada uma cadela morta por enforcamento e seus filhotes racám nascidos agonizavam no chão perto do corpo da mãe onde foram abandonados. O assunto teve repercussão na imprensa, na polícia, e o caso foi encaminhado para a promotoria pública, que está em processo contra o proprietário e executor de tal violência.

Mas e os filhotes, o que aconteceu?

Eles chegaram na minha casa no sábado à tarde dentro de uma caixa de papelão, gelados e gritando de fome. Eram dois machos e quatro fêmeas, com aproximadamente 10 dias de vida, os olhos ainda fechados e precisavam de leite. Os gritos eram tão altos que deixava qualquer um nervoso, e mesmo após receberam por conta-gotas uma mistura similar ao leite de cadela, continuavam agitados. Num exame mais minucioso encontrei o que os estava perturbando. Eram larvas de moscas dentro dos ouvidos, no interior das vulvas e ânus, o que me fez pensar que até os insetos sabiam que eles iriam morrer. Após a limpeza, foi novamente oferecido o conta-gotas e após a mamadeira, mas eles ainda os rejeitavam pois procuravam pela mãe. Por terem passado alguns dias com ela, eles não queriam a mamadeira e sim procuravam o cheiro e o leite materno que estes sim lhes eram familiares. Foi difícil aceitarem um objeto diferente para suprir a fome, mas acabaram aprendendo.

Mamavam a cada duas horas, eram aquecidos com bolsa térmica e limpos com uma toalha molhada em água morna. Depois de dias, alguns deles começaram a abrir a boca para respirar. Sem entender o motivo, levei para o veterinário, que ele diagnosticou pneumonia causada por falsa via, isto é, a ânsia causada pela fome e pela rejeição a mamadeira fez com que aspirarem o líquido para o pulmão. – Vai ser difícil salvar, disse o veterinário, você deve dar antibiótico, xarope espectorante, alimentá-los com sonda (da boca até o estômago) e fazer fisioterapia para soltar o catarro.

Passaram-se duas semanas, eles resistiram bravamente, ao tratamento, e mesmo com o pulmão comprometido, brincavam como qualquer filhote faz, e finalmente os dentes erupcionaram. Iniciaram alimentação com papinha, passaram para a ração, e continuaram crescendo. Cada dia eu contava como mais uma vitória daquelas vidinhas que queriam vencer...e eles conseguiram.

Todos encontraram boas famílias que os escolheram e os amaram desde o início. Duas mocinhas foram para o mesmo proprietário, e os demais estão soltos no pátio da casa, convivendo com outros cães, ou animando os donos com toda a energia que um cão saudável pode transmitir. Recebo notícias dos meus filhinhos adotivos e sinto orgulho pela mãe verdadeira deles ter produzido sementes vitoriosas, com virtudes até mesmo de superar a morte iminente.