Peripécias de voluntário

Várias vezes eu atendi ao telefone da minha casa e alguém perguntava: - É você que trabalha no CAPA? - Não, eu respondia, - sou apenas voluntária. Mas pensando bem, apesar de não ser remunerado, não deixa de ser um grande trabalho mesmo. Ser um voluntário de proteção dos animais é ser primeiramente uma pessoa que ama não apenas seus animais de estimação, mas também aquele que está na rua abandonado e doente, ou aquele passarinho filhote que caiu do ninho, aquela formiga que carrega tudo que é orgânico para seu formigueiro ou o urso polar que está lá no pólo norte correndo risco de extinção pelo degelo causado pelo aquecimento global. Ser voluntário é conseguir parar um instante, observar as coisas simples ao nosso redor e perceber e sentir que ali existe Deus. E se na vida de qualquer ser vivo existe Deus como o homem não consegue ver a boa energia que existe numa cadela que amamenta seus filhotes mesmo não tendo alimento para si mesma, que os cães têm coragem de proteger o patrimônio do dono sem ganhar nem um afago de gratidão, e que ainda perdoam os serem humanos mesmo quando são abandonados ou mal tratados por eles. É isso o que um futuro voluntário sente no início um futuro voluntário. Mas com o passar do tempo, vamos observando o quanto os humanos são covardes e descartam ou ignoram todos esses sinais que os bichos nos ensinam, e nesse momento a indignação começa a crescer e finalmente decidimos agir. Mas o que os voluntário do CAPA já fizeram? Algumas passagens hilárias e outras mais perigosas nos fizeram crescer e aprender que para os animais, tudo vale a pena.

Numa dessas avenidas da cidade, um cavalo visivelmente suado, cansado, provavelmente andando o dia todo abaixo de sol sem um gole de água sequer, puxava bravamente uma carroça com muito entulho. Diante daquela cena, uma voluntária desceu do carro, interceptou o homem, e com voz de indignação o fez tirar a metade do entulho e levar em duas viagens. Claro que ela ficou ao lado do monte esperando ele voltar.

Num outro dia chuvoso, duas voluntárias passaram por um carroceiro e perceberam que o cavalo estava ferido e assim mesmo puxando peso. No mesmo minuto uma delas desceu do carro, e mesmo com vestido curto e sandália de salto, deu voz de renúncia àquela cena, fez o dono desvencilhar o cavalo e tirá-lo da carroça. Mas o que fazer com o animal? Levar para o CAPA. E assim foi a jornada, a pé, de vestido e salto, molhada de chuva, mas um cavalo a menos sofrendo nas ruas. Pelo menos naquele momento.

E falando em chuva, num bairro da cidade, além de estar descendo água do céu, também vinha descendo de uma rua um homem que mal se mantinha em pé, puxando um boxer com uma corda muito curta. O cão, que ao mesmo tempo tentava se aliviar do enforcamento, ainda equilibrava o tal cidadão. Lógico que vendo isto as voluntárias pararam e abaixo de chuva negociaram o cachorro com o sujeito que se encontrava visivelmente alcoolizado. Entre tombos e mal criação, ele acabou entregando amigavelmente o sujo e molhado animal, que lógico, foi colocado dentro do carro e levado para a casa de uma delas. Hoje o boxer tem um novo lar e é o guardião fiel do seu novo dono.

Cães abandonados em casas à venda viraram rotina para quem é voluntário. As pessoas querem que os animais cuidem do patrimônio e que ao mesmo tempo vivam somente de vento e chuva. Então os vizinhos indignados com isso, denunciam tal maldade, e lá se vai pular muro, escalar grades, e passar o bicho por cima do portão para levá-lo ao veterinário. É indignante a ingratidão das pessoas aos seus animais.

Mas num desses resgates, o cão deixado para traz era grande, e apesar de doente e fraco continuava bravamente a cuidar da casa abandonada. Pegá-lo e colocá-lo no porta-malas do Gol não foi fácil, mas foi feito, porém durante o caminho o bicho começou a bater na tampa que poderia se abrir e então se soltar dentro do carro. Então, por que não pedir ajuda a quem sempre é valente também. Deu-se meia volta e chegaram até o corpo de bombeiros mais próximo para pedir ajuda. Então um dos soldados acompanhou as voluntárias até o Hospital Veterinário segurando a tampa do porta-malas para o cão não abrí-la, assim ninguém ficou ferido com o resgate.

E é nessas ações de resgates e denúncias que encontramos pessoas de várias idades e classes, que encaram o voluntariado como salvação ou ameaça, sem perceber que as suas más atitudes contra os animais estão revoltando a todos ao seu redor. Já recebemos ameaça de morte de sujeito que mal tratava seus cães e que meses depois foi preso por esfaquear um vizinho. Também fomos recebidos com hostilidade por um homem ao recebermos denúncia que sua cadela doente apanhava amarrada e que no mesmo dia ele a matou com dois tiros (o primeiro só a feriu) e ainda ameaçou os vizinhos com a arma caso alguém contasse. Acabou na polícia por porte ilegal de arma e tentativa de homicídio da esposa. Então, o respeito que se dá à vida deve ser projetado a todos os seres vivos. Como diz o provérbio: "Quem não valoriza um, não é digno de um milhão". Se o homem não é capaz de respeitar um ser vivo simples e puro, não conseguirá ver o valor que ele mesmo tem, e nem mesmo o valor do próximo.


Como você poderia ajudar o CAPA?

- adotando um cão para lhe oferecer uma vida digna;

- doando materiais de construção, materiais de limpeza, casinhas, ração para filhotes ou adultos, medicamentos, jornais, papelões.

- doando qualquer quantia em dinheiro na conta do Banco Banrisul agência-0917, cc 060837950-4.

Entre em contato: www.capapf.com.br